PASSAGEM DO ANO
O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo.
Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Drummond para reverenciar 2009!
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Sexta de Murilo Mendes
Aumenta a facinação e o enigma.
Tuas jóias e teus perfumes
São necessários a ti e à ordem do mundo
Como o pão ao faminto.
Tudo o que faz parte de ti __ desde os teus sapatos __
Está unido ao pecado e ao prazer,
À teologia, ao sobrenatural.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Primeiro amor
Ah, as férias estudantis...
Gozando plenamente das minhas, tenho me dedicado a valorosa tarefa de assistir a TV. Entre reality shows com nerds, remontagem de seriados dos anos 90 e entrevistas da Oprah sempre passamos pela Sessão da Tarde e seus clássicos (e clássico aqui funciona como eufemismo para não dizer filmes antiqüíssimos que são reprisados com freqüência...).
O último que me capturou foi "Meu primeiro amor"(My girl). E quem não lembra da trilha emblemática que repetia o trecho "My girl, my girl, I'm talking 'bout my girl, my girl"? A canção fofíssima do Temptations dava o tom meigo à história da "garota" que vivia as primeiras descobertas sobre o mundo adulto e, mais ainda, sobre o amor.
É um daqueles filmes a que assistimos cem vezes e nos emocionamos em todas: suspiramos com a singleza das situações e com a lembrança da inocência que um dia já tivemos.
O primeiro amor em questão no filme demora a aparecer. É confundido com a adimiração quase paternal por um professor e se mistura aos sentimentos de embaraço da pré-adolescência, quando o desejo ainda é velado e vergonhoso.
Por ironia, ele emerge da perda. Vada, a garota, percebe que ama seu melhor amigo e presencia sua estúpida e trágica morte.
A paixão atrapalhada acompanha todo a transformação por que passamos desde quando sentimos as mudanças físicas, hormonais (menstruação no caso da meninas, como mostra a obra) e psicológicas que caracterizam a fase.
E no olho do furacão aparece a atração pelo sexo oposto, que há pouco tempo era apenas motivo de irritação.
Pureza e a curiosidade se misturam para dar o tom da sensação de amar pela primeira vez. Como afirma a madrasta de Vada, não há lição que sirva para todos: no caso da paixão é preciso aprender na prática.
Não é a toa que a continuação do filme, lançada alguns anos depois, não faz jus ao original. O primeiro amor é rodeado de uma magia, um simbolismo que qualquer envolvimento posterior, por mais intenso ou duradouro que seja, nunca conseguirá se igualar.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
E o presente?
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Sexta de Álvares de Azevedo
Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não e´andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema
É ter para escever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Sexta de Ricardo Silvestrin
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
A bela
Além de ícone de beleza, a atriz é a perfeita representação da mudança de comportamento feminino, proposta a partir dos anos 50.
A aversão aos seres humanos, principalmente, motivada pela perseguição da mídia e dos fãs, fez com que ela criasse identificação com os animais. E a eles passou a dedicar sua vida.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Giros
Pareceu propícia essa do Fito para o dia!
=)
Giros
existe cielo y un estado de coma
cambia el entorno de persona en persona
Giros
dar media vuelta y ver que pasa ahi afuera
no todo el mundo tiene primavera
Flaco donde estás?
Estoy imaginándome otro lugar,
estoy juntando información,
estoy queriendo ser otro (otro tipo).
Mi necesidad se va modificando con las demás;
asi mi luna llega a vos, asi yo llego a tu luna.
Giros
todo da vueltas como una gran pelota
todo da vueltas casi ni se nota
Giros
fotografía de distintos lugares
fotográficamente tan distantes
Suena un bandoneo
parece de otro tipo pero soy yo,
que sigo caminando igual,
silvando un tango oxidado.
Giros
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Sexta "duplamente" Dele
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche porta e deixe de ter barulhos de chinelos
no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
Álvaro de Campos
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Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. __
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a um pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
Álvaro de Campos
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Barcelona
Brilhante como sempre!
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Sexta de Tomás Antônio Gonzaga!
Enganei-me, enganei-me __ paciência!
Acreditei as vozes, cri, Ormia,
que a tua singela igualaria
à tua mais que angélica aparência.
Enganei-me, enganei-me __ paciência!
Ao menos conheci que não devia
pôr nas mãos de uma externa galhardia
o prazer, o sossego e a inocência.
Enganei-me, cruel com teu semblante,
e nda me admiro de faltares,
que esse teu sexo nunca foi constante.
Mas tu perdeste mais em me enganares:
que tu não acharás um firme amante,
e eu posso de traidoras ter milhares.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
À flamengui[x]ta!
CARIOCAS SÃO BONITOS
CARIOCAS SÃO BACANAS
CARIOCAS SÃO SACANAS
CARIOCAS SÃO DOURADOS
CARIOCAS SÃO MODERNOS
CARIOCAS SÃO ESPERTOS
CARIOCAS SÃO DIRETOS
CARIOCAS NÃO GOSTAM DE DIAS NUBLADOS
CARIOCAS NASCEM BAMBAS
CARIOCAS NASCEM CRAQUES
CARIOCAS TÊM SOTAQUE
CARIOCAS SÃO ALEGRES
CARIOCAS SÃO ATENTOS
CARIOCAS SÃO TÃO SEXYS
CARIOCAS SÃO TÃO CLAROS
CARIOCAS NÃO GOSTAM DE SINAL FECHADO
Felicidades, Bruuuuu!
sábado, 8 de novembro de 2008
Fenômeno El Obama!
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Sexta de AUGUSTO DOS ANJOS...
Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!
Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe guarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz,e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!
AUGUSTO DOS ANJOS
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
O nu artístico
O manifesto do ator Pedro Cardoso tem levantado uma discussão antiga sobe as obras brasileiras. Não raro, ouço comentários maldosos sobre nossos filmes, fazendo referência à falta de conteúdo das obras e ao excesso de nudez apresentado por elas.
A arte não pode ser contida ou moralizada.
No entanto, a arte não pode servir de alicerce para exploração. Não pode justificar a venda do corpo, nem a massificação do sexo, palavra aqui usada no seu sentido mais amplo.
O ator foi corajoso em apresentar uma opinião que pode contariar as tendências, mas que certamente se aplica em muitos casos do cinema nacional.
O filme sobre Garrincha a que assisti essa noite é mais um caso. Concentra muitas cenas de sexo, peitos, bundas, etc. Em algum momento se faz um vazio entre a emoção que se quer dar às cenas e o caráter pornográfico explicitado no filme. Ele não emociona e não excita.
A chamada de um programa líder de audiência nas tardes de sábado e tido como familiar foi ao encontro das tendências.
O programa anuncia a atração vedete da semana: mulheres de não mais de 30 anos exibem seus corpos, alguns seminus, no corcurso em que representam equipes de futebol.
Pensei se não era apenas um pretexto da produção aquela gincana na qual uniriam o prazer do futebol ao da nudez em plena tarde de sábado.
Assim como a vida do mulherengo mas, acima de tudo, craque de bola Mané Garrincha se tornou um pretexto para rodar um filme erótico.
Por esses e por outros tantos motivos, cabe discutir e respeitar a opinião de Pedro Cardoso.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Sexta de Drummond!
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
preferiram (os delicados) morrer
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Sexta de Cecília Meireles!
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
hipócritasdafofoca.org.br
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Sexta sublime de Ferreira Gullar!
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
A grande borboleta
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Sexta de Emily Dickinson!
I'm nobody! Who are You?
Are You - Nobody - too?
Then there's a pair of
us?
Don't tell! They'd advertise - You know!
How dreary - to be - Somebody!
How public - like a frog -
To tell one's name - the livelong June -
To an admiring Bog!
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Sexta de Florbela Espanca!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui ...
além...
mais este e aquele, e outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não
amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou
desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a
vida inteira é porque mente.
Há uma primavera em cada vida:
é
preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus deu voz foi pra cantar.
E se
um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma
alvorada,
que me saiba perder... pra me encontrar...
(Florbela
Espanca - 1894-1930)
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
PRIMEIRO ANDAR
Já vou?
Será?
Eu quero ver
O mundo, eu sei, não é esse lá
Por onde andar?
Eu começo por onde a estrada vai
E não culpo a cidade, o pai
Vou lá
Andar
E o que eu vou ver?
Eu sei lá
Não faz disso esse drama, essa dor
É que a sorte é preciso tirar pra ter
Perigo é eu me esconder em você
E quando eu vou voltar?
Quem vai saber?
Se alguém numa curva me convidar?
Eu vou lá
Que andar é reconhecer
Olhar
Eu preciso andar num caminho só
Vou buscar alguém que eu nem sei quem sou
Eu escrevo e te conto o que eu vi
E me mostro de lá pra você
Guarde um sonho bom pra mim* Rodrigo Amarante
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Sexta saudosa a Caymmi!
Doralice
Doralice, eu bem que lhe
amar é tolice, é bobagem, ilusão
disse:Eu prefiro viver tão sozinho ao som do lamento do meu
violãoDoralice, eu bem que lhe
disse: olha essa embrulhada em que vou me
meterAgora, amor, Doralice, meu bem,
Como é que nós vamos fazer?Um belo dia você me surgiu, eu quis fugir mas você
insitiuAlguma coisa bem que andava
me avisando, até parece que eu estava
adivinhandoEu bem que não queria me
casar contigo, bem que não queria
enfrentar, esse perigo, DoraliceAgora você tem que me dizer: como é que nós vamos
fazer?
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
A tola e o Pessoa...
blog recém criado é desejar fervorosamente falar sobre minha paixão pelo
Fernando Pessoa.
Eu explicaria as reflexões que crio através de sua obra e as
emoções que o autor me proporciona.
Mas tenho uma crença terrível: a de que
paixões não se explicam.
Inclusive, acredito que a cada tentativa de
explicação elas se tornam menos críveis.
As minhas paixões são irracionais e
irreais, por excelência.
Não constam em cartas, em documentos... dificilmente
se tornam matéria.
São frutos de uma imaginação fértil.
Infinitamente
platônicas.
Importa-me, como estudiosa, a vida de Fernando Pessoa e as
críticas a sua obra.
Como apaixonada, isso pouco importa.
Importa o
que sinto quando leio cada letra que ele escreve.
E como todas fazem sentido,
sem qualquer explicação racional.
É paixão imatura... fulminante!
Como todas deviam ser.
Sexta PESSOANA!!!
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas,afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
TEMPO X LEITURAS
Acho que não.
As publicações são inúmeras e o desejo de ler, intenso.
Somados aos clássicos ainda não lidos, chegamos a um número infinito de livros inéditos.
E as REleituras?
Essas também são essenciais, apesar de muitas vezes termos de deixá-las de lado.
Olhamos a estante e sentimos angústia pelos livros adquiridos e, de certa forma, ignorados.
Visitamos bibliotecas e temos vontade de pernoitar em cada seção.
Nas livrarias, pouco ou muito dinheiro são sempre pouco (e isso que nem entramos no quesito preço...).
O fato é que não desistimos.
Nunca.
O leitor é objeto direto do verbo amar a leitura.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Ode feminista!
Confesso nunca ter sido uma fã escancarada de Dercy
Gonçalves. Tampouco, sou dada a homenagens póstumas, por sempre ver um pouco de
hipocrisia na maneira como elas são feitas, mas tenho de considerar a perda da
atriz.
Dona de um talento nato para o humorismo, Dercy iniciou a carreira no
final dos anos 20 como cantora; no entanto, o talento e a versatilidade latentes
fizeram com que ela, já nos anos 50, se tornasse uma das estrelas da TV
Excelsior.
Nos anos 60, Dercy dá um salto em sua carreira quando abandona a
dramaturgia e passa a fazer shows, que em sua maioria eram roteirizados e
dirigidos pela própria atriz. O sucesso nos palcos faz com que ela atinja status
de apresentadora, nas décadas seguintes, são recorrentes as participações em
quadros e novelas cujas personagens eram criadas especificamente para ela.Dercy
chegou a apresentar programas aos moldes dos talkshows, com muito sucesso,
todavia nem o seu deboche escapou aos talhos da ditadura.
O uso
indiscriminado de palavrões, sua marca registrada, fez dela um dos maiores
ícones do escracho na televisão brasileira
Dercy foi atriz em uma época em
que artistas eram consideradas prostitutas, falava palavrões em rede nacional sem
qualquer receio, tinha um comportamento excêntrico, que contradizia os valores
atribuídos a mulheres e idosos, como bestialidade para o primeiro grupo e
fragilidade para o segundo. Logo, tinha tudo para ser desrespeitada e
ridicularizada, como por vezes o foi, mas conseguia fazer humor de si mesma e de
suas bizarrices, fazendo com que nos identificássemos com sua sinceridade e
atrevimento.
Mais do que tudo, Dercy Golçalves mostrou que o talento e a arte
subvertem todo tipo de paradigma.
Sexta de QUINTANA!
domingo, 20 de julho de 2008
Sobre aqueles que a gente guarda do lado esquerdo...
20 de julho, Dia do Amigo.