sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ode feminista!




Confesso nunca ter sido uma fã escancarada de Dercy
Gonçalves. Tampouco, sou dada a homenagens póstumas, por sempre ver um pouco de
hipocrisia na maneira como elas são feitas, mas tenho de considerar a perda da
atriz.
Dona de um talento nato para o humorismo, Dercy iniciou a carreira no
final dos anos 20 como cantora; no entanto, o talento e a versatilidade latentes
fizeram com que ela, já nos anos 50, se tornasse uma das estrelas da TV
Excelsior.
Nos anos 60, Dercy dá um salto em sua carreira quando abandona a
dramaturgia e passa a fazer shows, que em sua maioria eram roteirizados e
dirigidos pela própria atriz. O sucesso nos palcos faz com que ela atinja status
de apresentadora, nas décadas seguintes, são recorrentes as participações em
quadros e novelas cujas personagens eram criadas especificamente para ela.Dercy
chegou a apresentar programas aos moldes dos talkshows, com muito sucesso,
todavia nem o seu deboche escapou aos talhos da ditadura.
O uso
indiscriminado de palavrões, sua marca registrada, fez dela um dos maiores
ícones do escracho na televisão brasileira
Dercy foi atriz em uma época em
que artistas eram consideradas prostitutas, falava palavrões em rede nacional sem
qualquer receio, tinha um comportamento excêntrico, que contradizia os valores
atribuídos a mulheres e idosos, como bestialidade para o primeiro grupo e
fragilidade para o segundo. Logo, tinha tudo para ser desrespeitada e
ridicularizada, como por vezes o foi, mas conseguia fazer humor de si mesma e de
suas bizarrices, fazendo com que nos identificássemos com sua sinceridade e
atrevimento.
Mais do que tudo, Dercy Golçalves mostrou que o talento e a arte
subvertem todo tipo de paradigma.

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